Quando puder, faça a experiência e observe, nas ruas, os calçados que as pessoas usam e o tipo de pisada que elas tem. Quase ninguém compra calçados observando o próprio pisar.
Se você sente dor nas costas e sabe que não é de carregar excesso de peso, se sente desconforto nas pernas, então é possível que a sua pisada seja incorreta. Vale a pena investigar em um laboratório especializado mesmo que você seja uma pessoa comum, e não um atleta ou alguém que trabalhe com os pés. Mas, saber como se pisa é essencial para comprar o calçado adequado às necessidades do seu corpo. Você pode observar as solas dos seus sapatos embaixo, como se desgastam, por igual ou um dos lados fica mais gasto do que o outro?
Em geral, existem três tipos diferentes de pisadas: a neutra, a supinada e a pronada, e todas variam em diferentes graus, dos mais moderados aos mais severos.
A Pisada neutra, também conhecida como pisada “normal”, é o tipo de pisada começa na ponta externa do calcanhar e segue naturalmente em direção à parte dianteira do pé, com uma mínima rotação.
A Pisada Pronada é conhecida com a pisada “para dentro”, e ela começa no canto interno do calcanhar e apresenta uma rotação que segue em direção à parte do tendão, próxima ao dedão do pé.
Já a pisada Supinada, conhecida como pisada “para fora”, começa no canto externo do calcanhar, com rotação para a planta do pé, na região onde ficam os dedos menores.
Existem algumas empresas de tênis, como os tênis Asics, por exemplo, que apresentam modelos corretores de pisadas. Calçados como o Asics Gel Nimbus 12, são ideais para os pés de pisada supinada até aqueles com leve pronação.
No entanto, analisar apenas o solado dos seus calçados não é suficiente para afirmar qual o tipo de pisada você possui. É preciso analisar também as estruturas ósseas dos seus pés e a constituição muscular. Pisadas incorretas prejudicam a postura e a postura é essencial para um pisar saudável.
Já existe disponível nas lojas palmilhas especiais para corrigir cada tipo de pisada, peça a um vendedor na hora de comprar sapatos.
sobre o uso do sapato de salto alto
O pé humano configura-se como um elemento de grande importância para toda estrutura corpórea, incluindo o sistema postural. Ele atua como o suporte final desse sistema e atua como o elo com o solo, tendo que se adaptar às irregularidades advindas do próprio corpo e do meio externo (BRICOT, 2001; STARKEY e RYAN, 2001). Os calçados servem como suporte para os pés e dependendo de sua configuração eles podem acabar alterando o alinhamento adequado dos membros (KENDALL et al., 2007; LUNES et al., 2008). O público feminino é um grande consumidor da indústria calçadista e procura seguir as tendências da moda. Assim, cada vez mais surgem novos modelos e diferenciados tipos de calçados. O uso do sapato de salto é um exemplo das possibilidades dos diversificados tipos de calçado que deve contemplar as necessidades do dia-a-dia de mulheres de diferentes faixas etárias (LUNES et al., 2005).
Com o aprofundamento cada vez maior dos estudos relacionados à biomecânica dos pés e dos calçados, os fabricantes demonstram preocupação com a qualidade e conforto dos seus produtos. Porém, nota-se que a maioria das pesquisas realizadas são voltadas para o estudo de calçados esportivos sem considerar a utilização de calçados femininos. Especificamente relacionando a contribuição da Biomecânica, pode-se dizer que esta dá suporte à indústria calçadista, fornecendo informações essenciais para a melhoria e otimização da produção desses produtos (SANTOS, 2006).
Em relação aos calçados femininos, a maior preocupação está voltada para a utilização de salto alto e possíveis alterações decorrentes do aumento do tamanho desse salto em diversas variáveis biomecânicas, como postura, força de reação do solo e pressão plantar (SANTOS, 2006). Logo, essa revisão bibliográfica tem o objetivo de analisar estudos relacionados ao uso de sapatos de salto alto, enfatizando as alterações biomecânicas decorrentes do uso desse tipo de calçado para a população feminina.
Procedimentos metodológicos
Foram realizadas buscas de estudos relacionados à biomecânica de calçados de salto alto e em bases de dados eletrônicas, sendo estas: LILACS®, SciELO®, congressos da área de biomecânica, teses e dissertação que relacionassem o tema. A seleção dos descritores utilizados no processo de revisão foi efetuada mediante consulta aos DECs (descritores de assunto em ciências da saúde da BIREME). Nas buscas, os seguintes descritores, em língua portuguesa e inglesa, foram considerados: salto alto, calçados e biomecânica e suas respectivas traduções para a língua inglesa. Recorreu-se aos operadores lógicos “AND” e “OR” para combinação dos descritores e termos utilizados para rastreamento das publicações. Para a formulação deste estudo foram utilizadas 19 referências. Destas, 12 são de língua portuguesa e sete de língua inglesa.
Interessando-se pela melhora da confecção de calçados Cavanagh et al. (2001) analisaram as características das formas dos pés de homens e mulheres adultos. Os autores concluíram que o pé feminino se difere do masculino nas características de forma como arco, face lateral, primeiro dedo e região plantar do primeiro metatarso do pé. Logo, os autores sugerem que essas características devem ser consideradas para a confecção e modelo dos calçados.
Com objetivo de avaliar se o uso de calçados de salto alto influencia nas alterações posturais, Lunes et al. (2008) realizaram um estudo com 20 indivíduos que utilizavam salto alto frequentemente e 20 que utilizavam esporadicamente. Os indivíduos foram fotografados no plano frontal anterior e sagital em três momentos:
-
sem utilização de calçado,
-
utilizando salto agulha e
-
utilizando salto plataforma, sendo estas fotografias aleatorizadas e analisadas por um experimentador cego por meio da fotogrametria.
Os resultados demonstraram que apenas o ângulo de protusão da cabeça do metatarso apresentou diferença quando comparados os grupos (p<0,01). O tipo de calçado teve efeito na variável alinhamento do joelho direito, sendo que houve diferença apenas entre o sapato agulha e os pés descalços (p=0,03); também para a variável ângulo tibiotársico, o efeito esteve presente em todos os tipos de calçado. Conclui-se que a freqüência do uso de salto e o tipo de salto praticamente não modificam a postura estática avaliada pela fotogrametria. Esse estudo se diferencia de outros dados da literatura que indicam modificações na postura com utilização de salto alto (DE LATEUR et al., 1991; ESENYEL et al., 2003; FREITAS E AGUIAR, 2004).
Freitas e Aguiar (2004) realizaram uma análise biomecânica da marcha e da postura através do uso de calçado com salto alto, na qual os resultados corroboram com o estudo de Lunes et al. (2008). Objetivando analisar o comportamento do joelho durante a marcha com salto alto, compararam-se esses dados com os ângulos na marcha sem calçado. Participaram da pesquisa 30 indivíduos adolescentes, os quais realizaram uma entrevista e posteriormente uma análise cinemática da marcha através de filmagem e fotografia. Os resultados encontrados demonstraram que não houve diferença significativa na marcha e na postura das adolescentes com o calçado de salto alto e sem o calçado. No entanto, foi relatado por 63% das adolescentes, desconforto do uso do calçado de salto alto, sendo mais frequentes as queixas na região do antepé, na região posterior da perna e na região lombar da coluna vertebral.
Preocupando-se também em analisar a influência do salto alto em adolescentes Pezzan et al. (2007) investigaram o arco longitudinal plantar de usuárias de calçados de salto alto, através da impressão plantar e da caracterização do tipo de pé. Participaram do estudo 36 indivíduos do gênero feminino, com faixa etária entre 13 a 20 anos de idade, os quais foram divididas em dois grupos, um de não usuárias e outro de usuárias de salto alto. Os resultados mostraram que a largura do arco plantar dos pés das usuárias de calçados de salto alto se mostrou reduzido quando comparadas ao outro grupo. Esses achados mostram que o calçado de salto alto altera a antropometria dos pés com relação à largura do arco plantar, sugerindo uma tendência ao pé cavo.
O uso do salto alto pode ter influência direta na marcha de seus usuários. A fim de avaliar as repercussões biomecânicas do uso do salto alto na marcha, Santos et al. (2008) realizaram uma revisão de literatura com estudos realizados no período de 1990 à 2007. Dentre os principais achados destaca-se que o uso do salto alto gera sobrecarga musculoesquelética, acarretando uma maior predisposição a lombalgias, gonartrose, háluz valgo, neuroma de Morton, calosidades podais, fraturas e lesões ligamentares. Verificou-se que a altura do salto é diretamente proporcional à intensidade das alterações biomecânicas. Sobre as análises cinemáticas da marcha, verificou-se que o seu ciclo foi modificado apresentando passos mais curtos e lentos. Além disso, notou-se um aumento da flexão do joelho significativo durante o golpe do calcanhar, no tempo de duração da fase de apoio, na sobrecarga sobre o antepé, além de diminuir a amplitude articular durante a fase de balanço.
Snow e Williams (1994) realizaram um estudo utilizando calçados com alturas de salto de 1,91 cm, 3,81 cm e 7,62 cm. Durante a postura estática, observou-se devido o aumento da altura do salto um aumento sistemático da carga no antepé. A flexão máxima de joelho durante o balanço, avaliada através da cinemetria, foi inversamente proporcional ao tamanho do salto, assim como a velocidade da extensão do joelho e o valor máximo de pronação do calcâneo. Já para os picos de força vertical e âtero-posterior, os valores foram diretamente proporcionais ao tamanho do salto.
Pegoretti et al. (2003) realizaram um estudo sobre o comportamento das curvas da coluna vertebral na marcha em função da altura do salto do calçado. Caracterizou-se como um estudo de caso, utilizando-se saltos de 83 mm e 49 mm em uma esteira ergométrica. Diferentemente do estudo de Santos et al. (2008) a frequência da passada se manteve a mesma durante a situação descalça e com salto alto. Porém, ocorreu um aumento no tempo de duplo apoio com o salto, comparando-se com a situação descalça. Em função da altura do salto do calçado ocorreu uma acentuação da curvatura geométrica 2D no plano sagital e uma diminuição das curvaturas no plano frontal na região lombar.
Segundo Snow e Williams (1992) o uso de sapatos de salto alto deve ser evitado, pois o centro de gravidade do indivíduo é levemente posteriorizado, e a carga no retropé corresponde a 60% do apoio plantar. O tamanho do salto é diretamente proporcional ao aumento de pressão plantar no antepé. Soames (1997) indica que a porcentagem de aumento da pressão chega a ser de 50% para saltos de 2 cm, 57% para saltos de 4 cm, 75% para 7 cm e 90% para sapatos de saltos com 10 cm. A maior problemática do aumento de pressão está relacionada à sobrecarga demasiada que ocorre na região da cabeça dos metatarsos.
Sobre essa questão e objetivando identificar possíveis mudanças temporais na marcha e na pressão plantar devido à variação do tamanho do salto, Eisenhardt et al. (1996) avaliaram 30 mulheres usando quatro tipos de calçados da mesma marca e com o mesmo material e estilo, apresentando apenas alturas de salto diferentes: 1,75 cm, 3,12 cm, 5,72 cm e 8,74 cm. Nos resultados foi encontrada uma relação inversa entre pressão da cabeça do quinto metatarso e altura de salto. Além disso, ao se comparar a situação com utilização de calçados de qualquer altura de salto com a condição descalça foi observado que os pés sustentam maior pressão na cabeça do quinto metatarso nesta última situação.
Brino et al. (2003) preocuparam-se em avaliar o comportamento de forças pelo uso do salto alto. Para as avaliações os autores utilizaram a plataforma de força. Foram verificadas as influências de seis modelos de calçado sobre os percentuais da força peso, aplicadas sobre a base de sustentação, levando em consideração a componente vertical da força de reação do solo. Os resultados mostraram influência do uso dos calçados com salto positivo maior que 5 cm nas variáveis cinéticas da base de sustentação. Os autores sugeriram a existência de uma relação entre a aplicação de um maior percentual da força peso no antepé para os calçados que apresentam maiores valores de declividade. Ao manter a postura em pé não foram encontradas diferenças com ou sem o uso de calçados, o que indica a possibilidade de adaptação dos pés ao calçado ou a aplicação de um maior percentual de força peso no antepé, especialmente com saltos de 5,6 cm e 9 cm utilizados no estudo.
Considerações finais
O uso demasiado do salto alto pode ser prejudicial aos usuários, pois a altura do salto é diretamente proporcional à intensidade das alterações e sobrecargas biomecânicas causadas ao organismo.
Verificaram-se queixas das usuárias em relação ao desconforto causado por esse tipo de calçado como, dores na região do antepé e na coluna lombar. O salto alto gera sobrecargas musculoesqueléticas, entre elas o surgimento de lombalgias, hálux valgo, calosidades podais, fraturas e lesões ligamentares, podendo alterar a antropometria dos pés com relação à largura do arco plantar, sugerindo uma tendência ao pé cavo. Além disso, destacam-se alterações no joelho como o alinhamento e aumento da flexão. Com o uso de sapato de salto também se nota diferenças nos ângulos articulares dos membros inferiores.
Um dos aspectos mais ressaltados é a mudança de pressão plantar da região posterior para a região anterior do pé, que aumenta proporcionalmente com o tamanho do salto. Essa sobrecarga atinge principalmente a região da cabeça do quinto metatarso, podendo acarretar problemas para essa região.
Portanto, a realização de estudos na área de Biomecânica do calçado são importantes e ainda necessários. Nesse sentido, a contribuição da área visa subsídios científicos para os fabricantes e maior conforto para os usuários que se beneficiarão com sapatos que não prejudiquem a saúde dos usuários. Vale ressaltar que assim como ocorre com os calçados esportivos, a escolha de um sapato não deve estar associada apenas a moda ou no seu design.